domingo, 18 de março de 2012

Acre avança no controle da malária

Febre alta, calafrios, dores e cansaço. Sintomas comuns a tantas doenças, mas que não enganam Paulo Cesar dos Santos Leite. Aos primeiros sinais no corpo, ele já sabe: ela chegou de novo. Com 41 anos, ele é figura conhecida do mosquito Anopheles, vetor da malária. O encontro entre os dois já rendeu 59 infecções, além das que ele não registrou de forma oficial.

Paulo César mora numa região endêmica da malária em Cruzeiro do Sul. Isso significa que, a qualquer momento, ele pode ser picado pelo mosquito transmissor e, novamente, adoecer. “Já aconteceu de estar sarando de uma malária e antes de terminar a medicação estar infectado com outro tipo. Eu já peguei quatro malárias no mesmo mês. Quando eu começo a ficar ruim já sei que peguei de novo. É horrível para um pai de família. Se eu não trabalhar, quem vai fazer o meu trabalho? Dentro da rede e com febre não tem como ir para o roçado”, disse.
Combater a malária na Amazônia, região que concentra mais de 90% dos casos da doença no Brasil, pode parecer entrar em luta perdida. Mas não é. Apesar das condições favoráveis ao mosquito, algumas medidas mostram que o esforço vale a pena.
Foi o que o Acre fez a partir de 2006, quando um surto de malária registrou 93.864 casos - 91% deles ocorreram nos municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Mâncio Lima, região endêmica por conta da quantidade de igarapés, rios e açudes que concentra.
“Os agentes de endemias que visitam casa por casa venceram a história da epidemia das comunidades em que todos os moradores pegavam a doença. Isso agora é página virada, é reconhecida internacionalmente, pois foi vencida com uma estratégia simples de muita união e esforço. Vejam como as coisas simples podem mudar a realidade ao nosso redor, os mosquiteiros impregnados são um exemplo disso”, disse o governador Tião Viana. 
Nos últimos anos, o Acre vem conseguindo resultados satisfatórios nas ações de controle e combate à  malária, fruto do trabalho conjunto dos governo federal, estadual, municipal e comunidade. Entre os anos de 2006 e 2007 houve 48% de redução. De 2007 para 2008, 47%. De 2010 para 2011 o número de casos foi 37,9% menor. E se compararmos os anos de 2006 (quando houve o surto de malária) com 2011, a redução dos casos da doença no Acre é de 75,6%.
“A malária é um desafio diário, porque a Amazônia favorece a proliferação do mosquito vetor. Ela é uma doença essencialmente rural, mas hoje a história da malária no Acre é outra”, disse a secretária Suely Melo.
Os sintomas da malária são febre alta, calafrios, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite, pele amarelada e cansaço. Não foi muito difícil identificar a doença no pequeno Alan Silva, que pegou malária com apenas 24 dias de vida. Quando a mãe percebeu a recusa ao alimento, o choro constante e a febre, submeteu o pequeno ao exame feito pelos agentes de endemias e confirmou a suspeita. O recém-nascido tomou a medicação dissolvida na mamadeira e a mãe, Ana Paula da Silva, 23, seguiu à risca a recomendação médica. “Ele dorme protegido, mas, mesmo assim, foi picado. Eu passei a gravidez inteira com malária, mal acabava de curar uma e já estava doente de outra. Quando dá seis horas da tarde eu fecho as portas e coloco o bebê no cortinado [mosquiteiro impregnado], mas ninguém escapa. A minha outra filha também pegou, só uma está escapando até agora: a mais velha”, disse Ana Paula.
A arma secreta: mosquiteiros com inseticidas
Os mosquitos transmissores da malária encontraram resistência e barreiras físicas e químicas no Juruá, região endêmica. O governo não ficou de braços cruzados e, em parceria com o então senador Tião Viana, buscou armas novas contra o vetor. Nessa época foram distribuídos os primeiros sete mil mosquiteiros - uma tela colocada sobre camas ou redes que forma uma barreira de proteção e impede o contato do mosquito com as pessoas - impregnados com substancia inseticida.
“Foi feita uma experiência piloto com sete mil unidades dos mosquiteiros, que estavam em uso em outros países. Aqui no Acre a nossa estratégia foi acompanhar a distribuição, instalação e uso do mecanismo para garantir que ele seria empregado da forma correta e medir a aceitação do produto entre as famílias. Com o resultado positivo e muita campanha de conscientização, foram adquiridas mais 70 mil unidades”, conta Thayna de Souza, gerente de Endemias da Sesacre.
Osmir Pereira dos Santos, 62, conta que num único ano pegou a doença seis vezes e já acumula mais de 12 diagnósticos de malária. Os mosquiteiros, para ele, são bastante eficientes e faz questão de usar a proteção. Maria Pereira, sua mulher, tem o cuidado de preparar o mosquiteiro antes das 18 horas, para evitar que algum mosquito “fique dentro da tela quando baixar o cortinado”, explica.

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