Paulo César mora numa região endêmica da malária em Cruzeiro do Sul. Isso significa que, a qualquer momento, ele pode ser picado pelo mosquito transmissor e, novamente, adoecer. “Já aconteceu de estar sarando de uma malária e antes de terminar a medicação estar infectado com outro tipo. Eu já peguei quatro malárias no mesmo mês. Quando eu começo a ficar ruim já sei que peguei de novo. É horrível para um pai de família. Se eu não trabalhar, quem vai fazer o meu trabalho? Dentro da rede e com febre não tem como ir para o roçado”, disse.
Combater a malária na Amazônia, região que concentra mais de 90% dos casos da doença no Brasil, pode parecer entrar em luta perdida. Mas não é. Apesar das condições favoráveis ao mosquito, algumas medidas mostram que o esforço vale a pena.
Foi o que o Acre fez a partir de 2006, quando um surto de malária registrou 93.864 casos - 91% deles ocorreram nos municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves e Mâncio Lima, região endêmica por conta da quantidade de igarapés, rios e açudes que concentra.
“Os agentes de endemias que visitam casa por casa venceram a história da epidemia das comunidades em que todos os moradores pegavam a doença. Isso agora é página virada, é reconhecida internacionalmente, pois foi vencida com uma estratégia simples de muita união e esforço. Vejam como as coisas simples podem mudar a realidade ao nosso redor, os mosquiteiros impregnados são um exemplo disso”, disse o governador Tião Viana.
Nos últimos anos, o Acre vem conseguindo resultados satisfatórios nas ações de controle e combate à malária, fruto do trabalho conjunto dos governo federal, estadual, municipal e comunidade. Entre os anos de 2006 e 2007 houve 48% de redução. De 2007 para 2008, 47%. De 2010 para 2011 o número de casos foi 37,9% menor. E se compararmos os anos de 2006 (quando houve o surto de malária) com 2011, a redução dos casos da doença no Acre é de 75,6%.
“A malária é um desafio diário, porque a Amazônia favorece a proliferação do mosquito vetor. Ela é uma doença essencialmente rural, mas hoje a história da malária no Acre é outra”, disse a secretária Suely Melo.
Os sintomas da malária são febre alta, calafrios, dor de cabeça e no corpo, falta de apetite, pele amarelada e cansaço. Não foi muito difícil identificar a doença no pequeno Alan Silva, que pegou malária com apenas 24 dias de vida. Quando a mãe percebeu a recusa ao alimento, o choro constante e a febre, submeteu o pequeno ao exame feito pelos agentes de endemias e confirmou a suspeita. O recém-nascido tomou a medicação dissolvida na mamadeira e a mãe, Ana Paula da Silva, 23, seguiu à risca a recomendação médica. “Ele dorme protegido, mas, mesmo assim, foi picado. Eu passei a gravidez inteira com malária, mal acabava de curar uma e já estava doente de outra. Quando dá seis horas da tarde eu fecho as portas e coloco o bebê no cortinado [mosquiteiro impregnado], mas ninguém escapa. A minha outra filha também pegou, só uma está escapando até agora: a mais velha”, disse Ana Paula.
A arma secreta: mosquiteiros com inseticidas
Os mosquitos transmissores da malária encontraram resistência e barreiras físicas e químicas no Juruá, região endêmica. O governo não ficou de braços cruzados e, em parceria com o então senador Tião Viana, buscou armas novas contra o vetor. Nessa época foram distribuídos os primeiros sete mil mosquiteiros - uma tela colocada sobre camas ou redes que forma uma barreira de proteção e impede o contato do mosquito com as pessoas - impregnados com substancia inseticida.
“Foi feita uma experiência piloto com sete mil unidades dos mosquiteiros, que estavam em uso em outros países. Aqui no Acre a nossa estratégia foi acompanhar a distribuição, instalação e uso do mecanismo para garantir que ele seria empregado da forma correta e medir a aceitação do produto entre as famílias. Com o resultado positivo e muita campanha de conscientização, foram adquiridas mais 70 mil unidades”, conta Thayna de Souza, gerente de Endemias da Sesacre.
Osmir Pereira dos Santos, 62, conta que num único ano pegou a doença seis vezes e já acumula mais de 12 diagnósticos de malária. Os mosquiteiros, para ele, são bastante eficientes e faz questão de usar a proteção. Maria Pereira, sua mulher, tem o cuidado de preparar o mosquiteiro antes das 18 horas, para evitar que algum mosquito “fique dentro da tela quando baixar o cortinado”, explica.
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