domingo, 8 de janeiro de 2012

PENSE PEQUENO

É muito fácil achar um assunto que nos torna os reis da festa, o centro da conversa.
Com tantas coisas não funcionando nesse mundo, das quais não gostamos e das quais queremos porque queremos nos queixar, assunto não vai faltar. São coisas que atrapalham todo mundo, saltam aos olhos.

Por exemplo, a sujeira das ruas de São Paulo. Só sobre essa questão temos prosa para todos os gostos. Todo mundo tem caso para contar. Não dá para esperar que um burocrata decente seja nomeado. Enquanto a solução oficial não aparece, descarregamos a raiva falando e contando casos.

Será que cada um de nós poderia fazer alguma coisa para aliviar? De fato, só dá para mexer um tiquinho de nada. Mas, se a gente fizesse isso, mesmo sem movimento popular ou um enorme abaixo-assinado contra a sujeira das nossas sarjetas, já seria mais do que nada.
Palpite infeliz: que tal se cada um se puser a varrer a própria calçada e não jogar a sujeira na sarjeta, evitando que a boca-de-lobo mais próxima entupa na primeira chuva e alague tudo? Aí já não é a minha rua, mas a nossa rua. Sem ser Poliana, pura ingenuidade, peço licença para sonhar um pouco: será que um ou dois vizinhos me vendo, dia após dia, varrendo a frente da minha casa não iriam me imitar? Se formos uma meia dúzia, os rios Tietê e Pinheiros nos serão gratos. Se você mora em prédio e já se queixou ao zelador, ao síndico e ao faxineiro sobre o encardido de certas áreas comuns e nada aconteceu, que tal limpar pelo menos o pedaço que você vê ali perto da sua própria porta? Quem sabe um dia outros comecem a imitar você? Pequenas coisas irritantes podem ser empurradas com a barriga, mas outras perturbam de maneira tão insistente que não dá para deixar para lá. Azar!

Fome, sede, calor e dor são desconfortos que acontecem, e temos que saná-los rapidamente, sem protelar. Mas não é com essas coisas importantes que preenchemos nossas horas de lazer com amigos. As queixas e reclamações a respeito dos nossos indiscutíveis direitos são de outra natureza. Falar mal do governo, da Telefônica, da Sabesp parece um vício que alimentamos por não termos coragem de formular a verdadeira queixa: todos nós gostaríamos que as instâncias e instituições tomassem conta da gente.
O conluio da criança que existe em nós e o poder de se queixar são difíceis de romper. Sentimo-nos injustiçados quando quem cuida do nosso entorno é relaxado. Os adultos não podem fazer muxoxo feito criança pedindo que tudo esteja arrumadinho. Acontece que os responsáveis por cuidar do nosso entorno também se sentem malcuidados e revidam.

Eis aí um círculo vicioso que só pode ser movido se assumirmos um pouco do malfeito. Se o barulho é grande e o Psiu não resolveu, sei que podemos tapar as orelhas. Como não é gostoso viver de orelha tapada, continue insistindo também pelas providências que nos são devidas.

Os maus cheiros são mais difíceis de evitar, mas sempre podemos recorrer a incensos enquanto a emissão de fumaça da indústria próxima não é embargada. Tudo a favor de movimentos comunitários, mas é preciso também saber "pensar pequeno". É glorioso liderar um movimento para demitir o faxineiro relapso. Mas durante o aviso prévio, é melhor varrermos nós mesmos para não escorregarmos no encardido.

Nada de dizer que se você fizer assim ninguém mais vai fazer nada. Ficando só na espera da ação de instância externa e superior, ficaremos muito mais tempo irritadinhos. Pensar pequeno não é desistir, pode até representar um passo na direção de uma cooperação.

Quem sabe um pequeno gesto dê início a um ciclo de reciprocidades e cooperação. Tudo a favor de mandar cartas, de votar certo, de participar de movimentos comunitários, mas, se o barulho é grande, tape os ouvidos, pois é o que dá pra fazer.

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