Eles conseguiram entrar nos mais disputados cursos das melhores universidades do Brasil e até do Exterior. Saiba como esses alunos venceram as dificuldades para alcançar o topo
Higor é negro, mora em um bairro popular da zona sul de São Paulo e estudou toda a vida em escola pública. Comemora, agora, o primeiro lugar em direito na Fundação Getulio Vargas (FGV). Mariana, criada em uma pequena cidade do sul de Minas, não entrou para a universidade de primeira. Não podia pagar pelo ensino superior privado, então tentou o vestibular de novo e, neste ano, conquistou incríveis nove aprovações para medicina em instituições públicas de ponta. Ornaldo é indígena e acaba de chegar a São Paulo. Ele, que veio do Acre, é o mais novo aluno de medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mais do que superar dezenas de candidatos e conquistar uma vaga em instituições e cursos concorridíssimos, esses jovens têm outra característica que os une: para chegar lá, tiveram de vencer adversidades muito maiores do que os exames.
Com boa parte ou toda a vida escolar na educação pública, são a prova de que brilho individual é peça importante para superar a precariedade do ensino brasileiro. Não que no passado jovens talentos oriundos de famílias sem dinheiro e com trajetórias acadêmicas exemplares não existissem. Eles já estavam aí, só que em menor número. Na última década, porém, com a melhoria econômica e a maior confiança da população brasileira, está em curso uma mudança que tem embasado a maior presença desses estudantes nas salas de aula dos principais centros acadêmicos do País. “Antes, uma série de alunos de escola pública com grande potencial não chegava à academia por achar que não conseguiria passar no vestibular”, avalia o cientista social Juarez Dayrell, coordenador do Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Isso mudou. “Na última década houve uma transformação de imaginário que colocou na ordem do dia das camadas populares o desejo de ir à universidade”, considera Dayrell, que observou essa tendência em uma pesquisa recente com 245 jovens do ensino médio público paraense. Ainda que eles não soubessem como, a maior parte demonstrou interesse em cursar o ensino superior.
Quando chegam lá, mais que simples alunos, esses jovens muitas vezes se tornam propulsores de mudança dentro das instituições. Foi o caso de Higor Borges Lima, 22 anos. Quando se inscreveu para o vestibular de direito na FGV, o jovem, filho de pai retificador ferramenteiro e mãe auxiliar de enfermagem, sabia que não tinha nenhuma condição de bancar os R$ 3.743 mensais cobrados pelo curso. “Fiquei feliz quando vi que passei em primeiro, mas nem alimentei esperança de estudar lá”, conta. Mal imaginava ele que, do outro lado da cidade, no campus da FGV, sua aprovação também causava rebuliço. Afinal, foi com surpresa que a direção da instituição constatou que o primeiro colocado vinha de um desconhecido colégio público da zona sul de São Paulo, a escola estadual Professora Maria Petrolina Limeira dos Milagres. O colégio ocupou apenas a humilde 481ª posição no último ranking das escolas paulistanas no Enem, em um total de 897 instituições de ensino médio da cidade.
Diante da constatação, houve toda uma negociação interna para garantir que o rapaz ficasse. É praxe na FGV dar ao primeiro colocado bolsa integral. No caso de Higor, porém, era preciso fazer mais. “Resolvemos antecipar um programa previsto para começar no próximo ano letivo, de auxílio financeiro para alunos que não têm recursos para se bancar na instituição, que exige dedicação integral aos estudos”, disse Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito da FGV-SP. Em caráter de emergência, aprovou-se que, além da isenção da mensalidade, o jovem receberia R$ 850 por mês. A decisão pegou o rapaz de surpresa e o deixou com um doce dilema a resolver: aprovado também no tradicionalíssimo (e concorrido) vestibular da Faculdade de Direito da USP o estudante deveria escolher entre a FGV e a universidade estadual. Bateu o martelo na sexta-feira 24: ficou com a FGV. Para passar nas duas instituições, Higor teve de compensar, por conta própria, o que não viu em sala de aula. “Eu aprendo muito sozinho”, conta ele, que devorou as apostilas do cursinho em casa.
Diante da constatação, houve toda uma negociação interna para garantir que o rapaz ficasse. É praxe na FGV dar ao primeiro colocado bolsa integral. No caso de Higor, porém, era preciso fazer mais. “Resolvemos antecipar um programa previsto para começar no próximo ano letivo, de auxílio financeiro para alunos que não têm recursos para se bancar na instituição, que exige dedicação integral aos estudos”, disse Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito da FGV-SP. Em caráter de emergência, aprovou-se que, além da isenção da mensalidade, o jovem receberia R$ 850 por mês. A decisão pegou o rapaz de surpresa e o deixou com um doce dilema a resolver: aprovado também no tradicionalíssimo (e concorrido) vestibular da Faculdade de Direito da USP o estudante deveria escolher entre a FGV e a universidade estadual. Bateu o martelo na sexta-feira 24: ficou com a FGV. Para passar nas duas instituições, Higor teve de compensar, por conta própria, o que não viu em sala de aula. “Eu aprendo muito sozinho”, conta ele, que devorou as apostilas do cursinho em casa.
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